Este é um trecho do livro A História Secreta da Raça Humana...
Descobertas antiqüíssimas na Europa

Da Europa temos mais provas da presença de seres humanos no princípio e no meio do terciário. Segundo Gabriel de Mortillet, M. Quiquerez registrou a descoberta de um esqueleto em Delémont, na Suíça, em argilas ferruginosas tidas como sendo do Eoceno Superior. A respeito dessa descoberta, Mortillet só fez dizer que se deve suspeitar de esqueletos humanos encontrados com os ossos em ligação natural. Mortillet ainda declarou que se deve ter cautela
quanto a um esqueleto igualmente completo encontrado por Garrigou em estratos do Mioceno em Midi de France.
É possível, contudo, que esses esqueletos tenham sido de indivíduos enterrados durante o Eoceno ou o Mioceno. Um sepultamento não tem necessariamente de ser recente. O que é realmente frustrante em relação a descobertas como essas é que não temos como conseguir mais informação sobre elas. Só encontramos uma breve menção da parte de um autor determinado a pôlas em descrédito. Por tais descobertas parecerem duvidosas para cientistas como Mortillet, ficaram sem ser documentadas e investigadas, sendo logo esquecidas. Quantas de tais descobertas terão sido feitas? Talvez jamais venhamos a saber. Em contraste, descobertas que se conformam com as teorias aceitas são exaustivamente investigadas e registradas, além de serem postas a salvo em relicários em museus.
Anomalias extremas
Como já vimos, alguns cientistas acreditavam que o homem macaco existia em tempos tão remotos quanto o Mioceno e o Eoceno. Poucos pensadores mais ousados chegavam a propor que havia seres inteiramente humanos vivos durante esses períodos. Agora, porém, vamos enveredar por épocas ainda mais remotas. Uma vez que a maioria dos cientistas tinha dificuldade de aceitar a existência de humanos no terciário, podemos apenas imaginar quão difícil teria
sido para eles fazer qualquer ponderação séria sobre os casos que estamos prestes a examinar. Nós próprios vimonos tentados a não mencionar descobertas como essas por elas parecerem
inacreditáveis. Mas o resultado de semelhante estratégia seria que passaríamos a analisar provas apenas de coisas em que já acreditamos. E a menos que nossas crenças atuais representassem
a realidade na sua totalidade, fazer isso não seria muito sensato de nossa parte. Em dezembro de 1862, uma notícia breve, mas intrigante, saiu num jornal chamado The Geologist "No condado de Macoupin, Illinois, encontraram recentemente os ossos de um homem num lençol de carvão recoberto com 60 centímetros de rocha de ardósia, 27 metros abaixo da superfície da terra [...] Os ossos, quando encontrados, estavam cobertos por uma crosta ou revestimento de matéria rígida e lustrosa, tão escura quanto o próprio carvão, porém, ao ser desbastada, deixou os ossos brancos e naturais". O carvão em que encontraram o esqueleto do condado de Macoupin tem pelo menos 286 milhões de anos e poderia ter tanto quanto 320 milhões de anos.
Nossos exemplos finais de provas anômalas préterciárias não estão na categoria de ossos humanos fósseis, mas na de pegadas fósseis semelhantes às humanas. O professor W. G. Burroughs, chefe do  epartamento de geologia do Berea College em Berea, Kentucky, registrou em 1938: "Durante o início do Período Carbonífero Superior (Era do Carvão), criaturas que andavam sobre as duas pernas traseiras e que tinham pés semelhantes aos humanos deixaram marcas na areia de uma praia em Rockcastle County, Kentucky. Foi esse o período conhecido como a Era dos Anfíbios, em que os animais se locomoviam sobre quatro pernas ou, mais
raramente, pulavam, e seus pés não tinham aparência humana. Em Rockcastle, Jackson e em diversos outros condados em Kentucky, porém, bem como em regiões desde a Pensilvânia até Missouri, existiam de fato criaturas dotadas de pés de aparência estranhamente humana e que caminhavam sobre duas pernas traseiras. O escritor provou a existência dessas criaturas em
Kentucky. Com a cooperação do dr. C. W. Gilmore, curador de Paleontologia Vertebrada da Smiththsonian Institution, foi demonstrado que criaturas semelhantes viveram na Pensilvânia e no Missouri.
O Carbonífero Superior (o Pensilvânio) começou cerca de 320 milhões de anos atrás. Pensase
que os primeiros animais capazes de andar eretos, os tecodontes pseudosuquianos, apareceram em torno de 210 milhões de anos atrás. Essas criaturas lagartíxicas, capazes de correr sobre suas pernas traseiras, não deixariam nenhuma marca de cauda, pois carregavam suas caudas em suspenso. Seus pés, porém, em nada pareciam com os de seres humanos; ao contrário, assemelhavamse aos de pássaros. Dizem os cientistas que o primeiro aparecimento de seres simiescos só se deu por volta de 37 milhões de anos atrás, e só por volta de quatro milhões de anos atrás é que a maioria dos cientistas esperaria encontrar pegadas como aquelas registradas por Burroughs, oriundas do Carbonífero de Kentucky.
Burroughs declarou: "Cada pegada tem cinco dedos e uma curvatura distinta. Os dedos são espalhados como os de um ser humano que jamais tenha usado sapatos". Apresentando mais detalhes sobre as impressões, Burroughs afirmou: "As curvas do pé apóiamse como um pé humano em relação a um calcanhar de aparência humana" . David L. Bunshnell, etnólogo da Smithsonian Institution, sugeriu terem as impressões sido entalhadas por índios. Ao descartar essa hipótese, o dr. Burroughs usou um microscópio para estudar as impressões e observou: "Os grãos de areia dentro das marcas estão mais juntos que os grãos de areia da rocha justamente fora das marcas, por causa da pressão dos pés das criaturas [...] O arenito adjacente a muitas das marcas está revolvido por causa da areia úmida e solta soerguida pelo pé à medida que este afundava na areia" . Tais fatos levaram Burroughs a concluir que as pegadas
semelhantes às humanas foram formadas por compressão na areia macia e úmida antes de esta se consolidar em rocha cerca de trezentos milhões de anos atrás. As observações de Burroughs
foram confirmadas por outros investigadores. Segundo Kent Previette, Burroughs também consultou um escultor. Em 1953, Previette escreveu: "Segundo disse o escultor, um entalhe
naquele tipo de arenito não poderia ter sido feito sem deixar marcas artificiais. Fotomicrografias e fotografias de infravermelho ampliadas não conseguiram revelar quaisquer 'indícios de entalhe ou cortes de qualquer espécie'". O próprio Burroughs parou subitamente de afirmar que as impressões foram feitas por humanos, mas sua apresentação deixanos com a forte impressão de que elas eram humanas. Ao lhe perguntarem a respeito delas, Burroughs disse: "Elas parecem humanas. É isso que as faz especialmente interessantes" .
A ciência de elite reagiu previsivelmente a qualquer sugestão de que as impressões foram feitas por humanos. O geólogo Albert G. Ingalls, escrevendo em 1940 para a Scientific American, disse: "Se o homem, ou mesmo seu ancestral símio, ou mesmo aquele primitivo ancestral mamífero do ancestral símio existiu tão remotamente quanto no Período Carbonífero sob qualquer forma, então toda a ciência da geologia está tão completamente errada que todos os geólogos demitirseão de seus cargos para se tornarem motoristas de caminhão. Daí, pelo menos por ora, a ciência rejeita a atraente explicação de que o homem fez essas misteriosas impressões na
lama do Carbonífero com seus pés". Segundo sugeriu Ingalls, as impressões foram feitas por algum tipo de anfíbio ainda não conhecido. Porém, os cientistas de hoje realmente não levam a sério a teoria do anfíbio. Anfíbios bípedes de dimensões humanas do carbonífero enquadramse
muito menos no esquema de evolução  já aceito do que seres humanos carboníferos eles causam estragos em nossas idéias dte anfibios primitivos, exigindo uma série de desenvolvimentos evolucionários sobre os quais nada sabemos hoje. Ingalls escreveu: "O que a ciência sabe realmente é que, de qualquer forma, a não ser que dois mais dois fossem sete e a não ser que os sumerianos tivessem aviões e rádios e assistissem ao programa Amos e Andy, essas impressões não foram feitas por nenhum homem do Período Carbonífero".
Em 1983, o Moscow News publicou uma notícia breve mas intrigante sobre o que parecia ser uma pegada humana numa rocha jurássica de 150 milhões de anos, próxima a uma pegada gigante de dinossauro de três dedos. A descoberta ocorreu na República Turcomana, no então sudeste da Rússia. O professor Amanniyazov, membro correspondente da Academia de Ciências da República Turcomana, disse que, embora a impressão se assemelhasse a uma pegada humana, não havia provas conclusivas de que tivesse sido feita por um ser humano. Essa descoberta não recebeu muita atenção, mesmo porque, dada a atual mentalidade da comunidade
científica, é de esperar semelhante negligência. Apenas sabemos de alguns casos de tais descobertas extremamente anômalas, porém, considerando que muitas de tais descobertas provavelmente não são registradas, perguntamonos quantas delas realmente existiriam.
PARTE II
8. O Homem de Java
No fim do século XIX passou a se consolidar um consenso, dentro de um segmento influente da comunidade científica, de que seres humanos do tipo moderno haviam existido tão remotamente como nos períodos Plioceno e Mioceno e talvez até mesmo antes disso. O antropólogo Frank Spencer afirmou em 1984: "A julgar pelas provas esqueletais que iam se acumulando, parecia que o esqueleto humano moderno já existia em tempos bem remotos, um fato evidente que levou muitos trabalhadores a abandonar ou a modificar seus pontos de vista sobre a evolução humana. Um de tais apóstatas foi Alfred Russell Wallace (18231913)". Wallace compartilha com Darwin o mérito de ter descoberto a evolução por seleção natural. Darwin achou que Wallace estava cometendo uma heresia da pior espécie. Spencer, porém, deuse conta de que o desafio de Wallace à doutrina evolucioária "perdeu um pouco de sua força, bem como alguns de seus apoiadores, quando passou a circular a notícia da descoberta de um extraordinário fóssil hominídeo em Java". Considerando a maneia surpreendente mediante a qual os fósseis do Homem de Java foram empregados para pôr em descrédito e suprimir as provas da grande antiguidade da forma humana moderna, passaremos agora a analisar a história deles. Eugene Dubois e o Pithecanthropus Perto da aldeia javanesa de Trinil, uma estrada termina numa margem alta dando vista para o rio Solo. Ali se encontra um pequeno monumento de pedra, marcado com uma flecha apontando para um areeiro na margem oposta. Além disso, o monumento traz uma inscrição críptica em alemão, "P.e. 175 m ONO 1891/93", indicando que o Pithecanthropus erectus foi encontrado 175 metros a leste e nordeste desse local, entre os anos 1891 e 1893. O descobridor do Pithecanthropus erectus foi Eugene Dubois, nascido em Eijsden, Holanda, em 1858, ano anterior à publicação, por parte de Darwin, de A origem das espécies. Apesar de ser filho de fervorosos católicos holandeses, ele tinha fascínio pela idéia da evolução, especialmente no que se aplicava à questão das origens humanas. Após estudar medicina e história natural na Universidade de Amsterdã, Dubois tornouse um preletor de anatomia na Royal Normal School em 1886. Mas seu verdadeiro amor permaneceu dedicado à evolução. Dubois sabia que os oponentes de Darwin viviam apontando para a quase completa falta de provas fósseis da evolução humana. Ele estudou com cuidado as principais provas então disponíveis os ossos dos espécimes de Neandertal. Estes eram considerados por muitas autoridades (entre elas, Thomas Huxley) como sendo demasiado próximos do tipo humano moderno para serem verdadeiramente intermediários entre os fósseis de símios e os humanos modernos. O dentista alemão Ernst Haeckel havia, contudo, vaticinado que mais cedo ou mais tarde encontrariam os ossos de um verdadeiro elo perdido. Haeckel chegou a providenciar uma pintura da criatura, à qual chamou Pithecanthropus (em grego, pitheko quer dizer símio, e anthropus, homem). Influenciado por ter visto o Pithecanthropus de Haeckel, Dubois decidiuse
a algum dia encontrar os ossos do homem macaco. Tendo em mente a sugestão de Darwin de que os antepassados da humanidade viviam em "alguma terra quente e florestada", Dubois ficou convencido de que encontraria o Pithecanthropus na África ou nas Índias Orientais. Uma vez que tinha mais facilidade para chegar às Índias Orientais, então sob o domínio holandês, ele decidiu viajar para lá e dar início à sua busca. Em primeiro lugar, abordou filantropos particulares e o governo, solicitandolhes recursos para uma expedição científica, mas não foi atendido. Acabou, então, aceitando ir trabalhar como cirurgião do exército em Sumatra. Com seus amigos já duvidando de sua sanidade, ele abandonou o confortável cargo de preletor universitário e, na companhia de sua jovem esposa, singrou para as Índias Orientais em dezembro de 1887, a bordo do S. S. Princess Amalie. Em 1888, Dubois viuse enfim posicionado num pequeno hospital
militar no interior de Sumatra. Em seu tempo livre, e valendose de seus próprios fundos, Dubois investigou as cavernas de Sumatra, encontrando fósseis de rinoceronte e elefante, além dos dentes de um orangotango, mas nenhum resto de hominídeo. Em 1890, após sofrer um ataque de malária, Dubois entrou de licença, sendo transferido para Java, onde o clima era mais seco e
mais saudável. Ele e sua esposa estabeleceramse em Tulungagung, na costa meridional do leste de Java. Durante a estação seca de 1891, Dubois realizou escavações na margem do rio Solo na Java central, perto da aldeia de Trinil. Seus operários extraíram muitos fósseis de ossos animais. Em setembro, depararam com um artigo especialmente interessante: um dente de primata, aparentemente um terceiro molar superior direito ou dente de siso. Acreditando ter deparado com os restos de um extinto chimpanzé gigante, Dubois mandou seus operários concentrarem
seu trabalho ao redor do local onde aparecera o dente. Em outubro, encontraram o que parecia ser uma carapaça de tartaruga. Porém, quando Dubois examinoua, viu que na verdade se tratava da parte de cima de um crânio (Figura 8.1), bastante fossilizado e tendo a mesma cor que o solo vulcânico. A característica mais distintiva do fragmento era o grande e saliente sulco sobre as órbitas dos olhos, que fez Dubois suspeitar que o crânio pertencera a um símio. O início da estação das chuvas veio trazer o término das escavações do ano. Num relatório publicado no boletim de mineração do governo, Dubois não fez sugestão alguma de que seus fósseis pertencessem a uma criatura em transição para a forma humana. Em agosto de 1892, Dubois voltou a Trinil, onde encontrou, entre ossos de veados, rinocerontes, hienas, crocodilos, porcos, tigres e elefantes extintos, um fossilizado fêmur semelhante ao humano. O fêmur  foi achado a cerca de 14 metros de onde a calota craniana e o molar tinham sido escavados. Mais tarde, encontraram outro molar a cerca de 3 metros da calota craniana. Segundo acreditava Dubois, os molares, o crânio e o fêmur pertenciam todos ao mesmo animal, que ele considerou ser um gigantesco chimpanzé extinto. Em 1963, Richard Carrington declarou em seu livro A million years of man: "A princípio, Dubois sentiuse inclinado a considerar que sua calota craniana e os dentes pertenciam a um chimpanzé, a despeito do fato de não haver evidência conhecida de que esse símio ou qualquer de seus ancestrais tenham alguma vez vivido na Ásia. Mas após muita reflexão e após corresponderse com o grande Ernst Haeckel, professor de zoologia da Universidade de Jena, ele declarou que o crânio e os dentes pertenciam a uma criatura que parecia admiravelmente qualificada para o papel de 'elo perdido'''. Não encontramos nenhuma correspondência que Dubois possa ter trocado com Haeckel, porém, se houvesse a intenção de prosseguir com a pesquisa, seria um acréscimo considerável ao nosso conhecimento das circunstâncias em torno do nascimento do Pithecanthropus erectus. Ambos os homens tiveram, é óbvio, um substancial envolvimento emocional e inteleclual na descoberta oe um espécime de homem macaco.
Haeckel, ao ser comunicado por Dubois de sua descoberta, telegrafou o seguinte: "Do inventor do Pithecanthropus para seu feliz descobridor"!
Só em 1894 é que Dubois enfim publicou um relatório completo de sua descoberta. Ele escreveu: "Pithecanthropus é a forma transicional que, segundo a doutrina da evolução, deve ter existido
entre o homem e os antropóides". O próprio Pithecanthropus erectus, deverseia ter o cuidado de observar, havia passado por uma transição evolucionária dentro da mente de Dubois, desde o
chimpanzé fóssil até o antropóide transicional. Que fatores, que não a influência de Haeckel, levaram Dubois a considerar seu espécime transicional entre os símios fósseis e os humanos modernos? Segundo constatou Dubois, o volume do crânio do Pithecanthropus variava entre 800 e 1.000 centímetros cúbicos. A média de volume dos símios modernos é de 500 centímetros
cúbicos, ao passo que a média de volume de crânios humanos modernos é de 1.400 centímetros cúbicos, colocando, desse modo, o crânio de Trinil em posição intermediária entre ambos. Para
Dubois, isso indicava uma relação evolucionária. Contudo, logicamente falando, poderseia ter criaturas com diferentes tamanhos de cérebros sem ter de estabelecer uma progressão evolucionária do menor para o maior. Além do mais, havia, no Pleistoceno, muitas espécies de mamíferos representadas por formas muito maiores que as de hoje. Logo, talvez o crânio de Pithecanthropus não pertencesse a um antropóide transicional, mas a um gibão excepcionalmente grande do Pleistoceno Médio, com um crânio maior que aqueles de gibões modernos. Hoje, os antropólogos ainda observam a rotina de descrever uma progressão evolucionária de crânios hominídeos, aumentando de tamanho com a passagem do tempo desde
o Australopithecus do Pleistoceno Interior (descoberto em 1924), passando pelo Homem de Java do Pleistoceno Médio (hoje conhecido como Homo erectus), até o Homo sapiens sapiens do Pleistoceno Superior. Mas a seqüência só é preservada à custa de eliminar crânios que a rompam. Por exemplo: o crânio de Castenedolo, analisado no Capítulo 7, é mais velho que o do Homem de Java, mas é maior em termos de capacidade craniana. De fato, é inteiramente humano em tamanho e morfologia. Mesmo uma só exceção dessa espécie é sufIciente para invalidar toda a seqÜência evolucionária proposta.Segundo observou Dubois, apesar de o crânio de Trinil ser muito simiesco em algumas de suas características, tais como as salientes arcadas supraorbitais, o fêmur era quase humano. Isso era indício de que o Pithecanthropus andara na vertical, daí a designação erectus para a espécie. É importante, contudo, ter em mente que o fêmur do Pithecanthropus erectus foi encontrado a 14 metros do local de onde desenterraram o crânio, num estrato contendo centenas de outros ossos de animais. Essa circunstância torna duvidosa a alegação de que tanto o fêmur quanto o crânio pertenciam, na verdade, à mesma criatura, ou mesmo à mesma espécie.
Quando os relatórios de Dubois chegaram ao conhecimento da Europa, receberam muita atenção. Haeckel, evidentemente, era um dos que celebrava o Pithecanthropus por ser a prova mais forte, até aquele momento, da evolução humana. "Agora as circunstâncias, nessa grande batalha pela verdade, foram radicalmente alteradas pela descoberta de Eugene Dubois do fóssil de Pithecanthropus erectus", proclamou o triunfante Haeckel. "Sem dúvida, ele acaba de nos fornecer os ossos do homem macaco que eu havia postulado. Essa descoberta é mais importante para a antropologia do que foi para a física a tão louvada descoberta dos raios X". Existe um tom quase religioso de profecia e satisfação nas observações de Haeckel. Só que Haeckel tinha um histórico de exagerar provas fisiológicas para apoiar a doutrina da evolução. Certa feita, em julgamento acadêmico na Universidade de Jena, ele foi dado como culpado por falsificar desenhos de embriões de diversos animais, a fim de demonstrar seu próprio ponto de vista sobre a origem das espécies.
Em 1895, Dubois decidiu retornar à Europa para exibir seu Pithecanthropus àquela que seria, ele tinha certeza, uma audiência admiradora e apoiadora de cientistas. Logo após sua chegada, ele
exibiu seus espécimes e apresentou relatórios perante o Terceiro Congresso Internacional de Zoologia em Leyden, Holanda. Embora alguns dos cientistas presentes ao Congresso estivessem, como era o caso de Haeckel, ansiosos por apoiar a idéia de que a descoberta era de um fóssil de homem macaco, outros acharam que se tratava de um mero macaco, ao passo que outros ainda desafiaram a idéia de que os ossos pertenciam ao mesmo indivíduo. Dubois exibiu seus estimados ossos em Paris, Londres e Berlim. Em dezembro de 1895, peritos do mundo todo reuniramse na Sociedade de Antropologia, Etnologia e Pré-história de Berlim para colocar em julgamento os espécimes de Pithecanthropus de Dubois. O presidente da Sociedade, de Virchow, recusouse a presidir o encontro. No debate carregado de controvérsias que se seguiu, o anatomista suíço Kollman disse que a criatura era um símio. O próprio Virchow disse que o fêmur era inteiramente humano, e ainda declarou: "O crânio tem uma sutura profunda entre a abóbada baixa e a borda superior das órbitas. Semelhante sutura só ocorre em símios, e não no homem. Portanto, o crânio provavelmente pertence a um macaco. Na minha opinião, essa criatura foi um animal, um gibão gigante, de fato. O fêmur não tem a menor ligação com o crânio". Essa opinião contrastou surpreendentemente com a de Haeckel e outros, que mantiveram a convicção de que o Homem de Java de Dubois era um ancestral humano autêntico.